Aos 40 anos, separada há menos de um ano do produtor João Marcello Bôscoli e mãe de Arthur, Eliana se parece cada vez menos com a imagem de sua própria fama
Há nove anos, desde que assumiu o horário mais disputado da tevê brasileira, sitiado por veteranos como Silvio Santos e Fausto Silva, Eliana já chegou mostrando que não estava para brincadeira. O Programa da Eliana, apresentado nas tardes de domingo no SBT, é popular, e isso, por si só, já explica metade do sucesso traduzido em audiência. A outra metade é o carisma da apresentadora. E ela sabe na ponta da língua explicar o porquê.
“Acho que isso tem a ver com o meu DNA. A alma do programa é muito ligada ao meu estado de espírito. Tem ligação direta com o que eu realmente acredito. Tem uma verdade ali e acho que isso dá credibilidade”, diz. Embora se sinta muito à vontade no comando de uma atração que provoca conversa fácil com o grande público, Eliana dispensa a seu universo particular uma versão mais erudita.
Quando atravessa os portões do gigantesco complexo na Anhanguera, onde ficam os estúdios das atrações de Silvio Santos, Eliana ajusta a rota em direção a outros interesses. A arte é uma delas. Colecionadora de obras de arte, é dona de um acervo que inclui um desenho da modernista Tarsila do Amaral, que Eliana define como “encantador”, e uma escultura de três metros de altura, feita sob encomenda, do português Ascânio Maria Martins, instalada no hall de entrada da sua casa em São Paulo.
“Tenho poucas obras ainda, pois elas precisam me emocionar. Não é apenas um investimento financeiro. Elas me tocam na alma”, diz a apresentadora.
Um recente curso sobre o tema na Casa do Saber a empolgou mais. “Gosto de arte de uma maneira geral. Foi genial ter conhecido a forma de pensamento de artistas como Yves Klein (artista francês) e Jackson Pollock (pintor norte-americano)”. Ela conta que o apreço pelas artes vem da adolescência. A origem humilde não foi empecilho para ampliar o olhar nessa direção. “Desde a época da faculdade de Psicologia, eu já adorava a obra Amor e Psiquê, de Antonio Canova. Depois de alguns anos, quando a vi pessoalmente no Museu do Louvre, em Paris, chorei de emoção. Ali percebi que tinha uma nova paixão na vida”, conta. “Depois disso, ainda fui para Possagno, na Itália, conhecer o ateliê e a casa do artista. Foi como um sonho.”
Mas Eliana queria saber mais. Então comprou uma editora e passou a publicar livros artísticos.
Foi a paixão pela fotografia de Helmut Newton que a inspirou, há cinco anos, a investir na Master Books. Entre os livros publicados desde 2009, ano de abertura da empresa, estão Nina sobre a obra da artista e amiga Nina Pandolfo, Não Pare na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho, de Carolina Kotscho, O Palhaço, de Selton Mello, e Cegueira, um Ensaio, de Fernando Meirelles, em que o cineasta detalha o processo de produção do filme Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. “Foi uma grande honra receber o Meirelles e a Pilar (Del Río), viúva de Saramago, na minha casa e ouvi-la dizer que se ele estivesse ali, com certeza, ficaria emocionado”, lembra Eliana. Eles jantaram no apartamento carioca da apresentadora, na Lagoa.
“Também fiquei muito feliz ao receber uma ligação do Selton Mello, dizendo que gostaria de lançar o livro dele na minha editora. Meu orgulho nela é que, por ser butique, não está ligada às vendas e sim em ter tido a confiança dessas pessoas para colocarem suas obras ali.” O próximo lançamento merece uma deferência especial. Trata-se da biografia de Elis Regina, avó de seu filho Arthur, escrita pelo jornalista Julio Maria. “É o que estou lendo agora. Sou absolutamente encantada com o talento, a força e a coragem dessa mulher. Ela é muito intensa e ainda a maior cantora do nosso país”, elogia. A ex-sogra, se estivesse viva, saberia a música escolhida para embalar o crescimento do neto, filho do produtor musical João Marcello Bôscoli: “É, só eu sei/Quanto amor eu guardei/ Sem saber que era só pra você/É, só tinha de ser com você/Havia de ser pra você/ Senão era mais uma dor/Senão não seria o amor/Aquele que a gente não vê/O amor que chegou para dar/ O que ninguém deu para você’”, cantarola. “Quando ele nasceu, eu vi que não poderia cantar para mais ninguém na minha vida, só para o Arthur”, derrete-se.
É o filho quem manda na vida da líder em audiência aos domingos na televisão. Não à toa, ele tem o nome de rei. E compara a mãe à Cinderela. “Ele é louco pelas princesas. E quando me vê de vestido longo fica encantado, dizendo que pareço uma”, sorri. “Todo dia ele vem ao meu quarto, deita ao meu lado, me abraça e fica lá me olhando. E eu conto histórias que invento. O duro é quando ele pede para repetir.” Pelo Arthur, Eliana diz que vale até uma correria a mais no seu já agitado dia a dia. “Outro dia, estava no SBT, me maquiei, saí da emissora, fui até a reunião da escola e voltei para gravar. Foi uma gincana, mas valeu a pena ver a alegria dele quando me viu chegando.” Do casamento com João Marcello, ficaram o respeito e a amizade. “Ele é uma pessoa muito próxima, é o pai do meu filho e isso é o mais importante”, resume. Solteira, ela garante que a Cinderela não anda disposta a largar sapatos em escadas desconhecidas, mas não está fechada para o amor. “Se o destino me pegar de surpresa no meio do caminho, ok. Mas não é algo que esteja pensando agora.” Mas avisa: “Como mulher, o que eu quero é ser cuidada. Colocar a cabeça no colo de alguém e não ter que decidir tudo. Quero que decidam por mim”. A gente duvida um pouco. Afinal, o poder de decisão sempre permeou a vida da mulher que completa 41 anos em novembro.
E nos mesmos embalos de decisão, ela quis evoluir no seu apreço pela moda. Seu estilo hoje é mais uma pista de que o gosto refinou no compasso da arte e da literatura. “O mais importante é me sentir bem e respeitar meu estilo. Sei que não adianta eu querer me vestir como as top models porque não tenho as mesmas proporções. Sou uma mulher de 1,60 m com formas ultrafemininas”, diz. Mas ela sabe o que quer e investe em looks poderosos nas aparições públicas. O resultado é fruto de uma bem-sucedida parceria com o stylist Luis Fiod. “Meu trabalho com ele dá certo porque ele traz o conhecimento de moda e eu, o conhecimento de televisão. Nem tudo que fica bom em uma foto ou uma revista vai ficar bom em movimento na tevê.” Por falar em moda, Eliana está à frente do portal feminino DaquiDali, que hoje conta com mais de quatro milhões de acessos ao mês.
A trajetória em 26 anos de carreira é extensa e múltipla. De apresentadora infantil a campeã de audiência aos domingos; da Eliana de Os Dedinhos, menina de shortinho de cintura alta que vendeu três milhões de discos, à estilosa mulher de 40 anos, a conclusão é uma só: para começo de conversa, Eliana é uma mulher para muito mais que um dedo de prosa.
Matéria publicada por IstoÉ Gente
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