Eliana comenta carreira, o papel da mulher na TV e o diálogo nas plataformas digitais
Eliana: Não há empoderamento sem igualdade.
Não adianta você colocar a mulher em um cargo de confiança
e não pagar o mesmo salário que se paga a um homem
Em agosto de 2018, Eliana Michaelichen Bezerra, ou, simplesmente, Eliana, completa 30 anos de carreira. A primeira aparição da apresentadora na TV foi no comercial do sutiã Valisère, criado por Washington Olivetto, na época sócio da W/Brasil. A figuração na publicidade era apenas o início de uma trajetória bem-sucedida. Cantora, apresentadora, atriz e empresária, Eliana se apresenta como uma mulher empoderada e uma profissional multifacetada. Nesta entrevista, ela faz um balanço sobre as três décadas de carreira, analisa o papel da mulher na TV e fala sobre o diálogo com o público nas plataformas digitais, já que lidera atualmente o ranking das apresentadoras mais influentes nas redes sociais.
São três décadas de atuação na televisão, que balanço você faz dessa trajetória?
O tempo passou voando. Ocorreu muita coisa, em uma velocidade assustadora, mas vivi cada momento com total intensidade. Gosto de trabalhar, me dediquei e continuo me dedicando muito. Durante este período, realizei sonhos profissionais e pessoais por meio da minha trajetória. Reinventei-me muitas vezes. Atualmente, olho para esse caminho e me orgulho.
Como você analisa o papel da mulher na televisão?
As mulheres estão cada vez mais presentes e fortes em todas as áreas da televisão. As concorridas tardes da programação dominical foram dominadas, por muito tempo, apenas por homens. Há mais de dez anos entrei neste território, em que sempre brilharam grandes e admiráveis profissionais, como Silvio Santos, Fausto Silva e Gugu Liberato. E, após mais de uma década, as apresentadoras de auditório ainda são exceção à regra. Mas, em linhas gerais, estamos avançando em todas as áreas com muita competência. Além da representatividade, ainda falta a equivalência de salário e a seriedade ao tratar a figura feminina dentro do ambiente de trabalho.
Você acredita que a igualdade é mais importante que o empoderamento?
Não há empoderamento sem igualdade. Em minha modesta opinião, não adianta você colocar a mulher em um cargo de confiança e não pagar o mesmo salário que se paga a um homem, por exemplo. Não adianta você respeitá-la de um lado e subestimar de outro. Também acredito que essa percepção e consciência das pessoas só vai realmente aparecer de forma natural nas próximas gerações. Somos nós, pais, que temos mais um dever na sociedade, que é educar nossos filhos com uma visão mais plural dos gêneros. Ensinando a respeitar até à exaustão a figura feminina, que, por anos, foi oprimida e desconsiderada.
Você foi a primeira mulher a entrar na guerra pela audiência nas tardes de domingo. Já se sente totalmente confortável ou algo ainda te assusta, incomoda?
Nestes mais de dez anos, precisei passar por algumas mudanças. A primeira e mais importante foi fazer a transição bem-sucedida do infantil para o público familiar. Precisei trabalhar algumas coisas, até mesmo dentro de mim, para depois me apresentar mais segura para o público. Feito isso, enfrentar o desafio de ser a única mulher apresentando programas aos domingos. Atualmente as mulheres encabeçam tantas famílias e empresas, na maioria das vezes, as próprias empresas, então, por que elas não estariam comandando também um programa de entretenimento no dia mais concorrido da televisão? Estou muito satisfeita por fazer com que as mulheres se vejam representadas.
O programa está sempre se reinventando?
O programa muda de acordo com o que colocamos no ar. Algumas vezes o programa está mais feminino, outras com mais informações sobre as viagens internacionais que realizo. É um programa dinâmico, não é engessado com quadros únicos. Todo domingo é um domingo diferente. Essencialmente, é um programa feminino, uma apresentadora mulher falando com a mulher brasileira.
Com a chegada do digital, o diálogo com o público mudou e você lidera atualmente o ranking das apresentadoras de televisão mais influentes nas redes sociais. Como você explica isso?
Conversar e me mostrar um pouco além da televisão foi bacana para mim. Poder ter contato direto com um público grande, afinal, tenho mais de 20 milhões de seguidores em minhas redes sociais, sem a mediação de outro veículo, também, se tornou algo muito atrativo para quem, como eu, gosta de falar e ser ouvido. Claro que a televisão e a mídia impressa muito me interessam, sou parte delas e as consumo. Mas quando quero participar da discussão de diversos outros assuntos e, com uma maior rapidez, me manifesto através das minhas contas no Instagram, Twitter e Facebook.
Como você trabalha o licenciamento da marca Eliana?
Tudo é trabalhado com muito respeito e consciência, pois tenho a obrigação de colocar minha marca em produtos de qualidade. Recebo consultas de diversas marcas que gostariam de licenciar produtos, mas são poucas com as quais chegamos a realizar parcerias concretas. Tudo é feito com muita tranquilidade e critério, pois um produto inadequado pode arranhar uma imagem para sempre.
O empreendedorismo é um desafio ainda maior para as mulheres?
O empreendedorismo para as mulheres é difícil, assim como em todas as áreas. Mas o desafio abre possibilidades de autonomia, para que elas possam fazer o próprio caminho. Os números mostram o quanto as mulheres têm apostado no empreendedorismo para serem donas de seu negócio e, inclusive, conciliar melhor o trabalho com a maternidade. Mas sempre haverá obstáculos e uma diferenciação. Há oito anos fundei uma editora, a Master Books, e nela tenho títulos importantes e nomes de expressão como Fernando Meirelles, Selton Mello, Milton Nascimento, Elis Regina e Nina Pandolfo. Muitas vezes, até hoje, poucas pessoas associam a minha imagem a de uma publisher de editora. Muitos me questionam o porquê de uma editora de livros e sempre respondo que cultura nunca é demais. Tenho de trabalhar dobrado para que me enxerguem como empresária, como alguém que faz mais do que eles esperam ou conhecem.
Como vocês escolhem os merchandising do programa?
Essa é uma área que cabe diretamente ao SBT, que é bastante criterioso. Mas tenho uma relação direta com cada cliente. Gosto de conversar e entender a essência e a ideia daquele produto. Saber que público o cliente quer atingir. Faço isso com muito carinho. A minha ligação é muito próxima, seja em um almoço com o mercado publicitário ou, até mesmo, conhecendo o cliente na hora de gravar um merchandising. Acima de tudo preciso acreditar e gostar do produto. Ele precisa ter uma aderência com aquilo que eu acredito e com a minha marca.
Você acredita que a busca pela audiência derruba o nível dos programas? Você se preocupa com ela?
Acredito sim. Olhar apenas para o resultado impacta no nível do conteúdo. O caminho, na minha opinião, é fazer um material bem feito para que o público venha a conferir o que você oferece de bom e de novo. Nivelar por baixo pode ser fatal a longo prazo.
Nesta onda do politicamente correto você pensa mais na hora de falar ou escrever para os fãs?
Sou reconhecida como uma figura que sempre prezou pelo bom senso. Credibilidade e solidez estão sempre entre os atributos que associam a minha imagem. Minha vida pessoal, com seus altos e baixos, o que é comum a todos nós, sempre foi resolvida da porta para dentro. Sempre falei o que penso, mas não gosto de polemizar.
Você já participou de diversos comerciais, aliás, esteve entre as dez celebridades que mais apareceram em campanhas em 2017. Como você avalia a publicidade brasileira?
A publicidade brasileira é uma das melhores do mundo. Ela brilha na originalidade, desperta nossos sentimentos, tira partido do humor e faz com que marcas e produtos entrem em nosso cotidiano e façam parte, até mesmo, do nosso vocabulário. Os criativos e agências fazem verdadeiras obras de arte. Tive o privilégio de participar de uma campanha que marcou uma época, o comercial Meu primeiro sutiã, criado para a Valisère pelo publicitário Washington Olivetto. Há muitos diretores de fotografia excelentes, roteiristas, diretores. Sou fã dos nossos comerciais.
O que falta você fazer na televisão?
Nunca fiz um programa noturno ou alguma atração na televisão a cabo. Seria uma oportunidade interessante de falar com um público novo e entrar em outro universo.
Quais são os próximos desafios?
Acredito que me reinventar, sempre. Olhando meu histórico de 30 anos de carreira, acho que posso confiar na minha intuição. Na televisão, aprender, inovar e querer sempre o melhor em conteúdo, não só como entretenimento, mas também, como em cultura.
por ALISSON FERNÁNDEZ
Nota publicada por PROPMARK
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