Ventos fortes não assustam Eliana. Aos 30 anos de carreira e prestes a fazer 45 de idade (em 22 de novembro), a apresentadora da atração que leva seu nome no SBT afirma que está “pronta para o que der e vier”. Está acostumada a reviravoltas! Foi com a canção “Os dedinhos”, em 1993, que a loura se tornou nacionalmente conhecida. Nessa época, ela comandava um programa infantil e já tinha passado pelos grupos musicais A Patotinha e Banana Split. De lá para cá, muitas tempestades e bonanças aconteceram na trajetória profissional e na vida pessoal da paulistana. As guinadas fizeram da mãe de Arthur, de 7 anos, e Manuela, que completa 1 amanhã, uma mulher forte.
— Fiz nesses 30 anos de profissão tudo o que eu gostaria de assistir na TV da minha casa, de mostrar para meus filhos, sabe? Do meu início, conservo a humildade e a vontade de aprender, de estar alerta às conversas, ao que o telespectador deseja. Isso tudo foi valioso e me fez chegar aonde cheguei. Só tenho razão para sorrir — celebra ela, única apresentadora de programa de auditório da TV aberta aos domingos, vice-líder na audiência.
No meio do caminho, cheio de adaptações, Eliana precisou buscar a ajuda de uma sexóloga. Apesar de se projetar como a comunicadora que falava diariamente com as crianças na emissora de Silvio Santos (de 1991 até 1997), ela se tornou sucesso de público como apresentadora de atrações para adultos. A transição aconteceu em 2005, já na RecordTV, e se deu de forma obrigatória. Por conta de leis que limitavam o mercado publicitário de investir na programação infantil, ela não teve outra saída a não ser se reinventar.
— Por conta disso, fui fazer terapia com a sexóloga Maria Helena Matarazzo. Eu precisava me soltar como mulher em frente às câmeras. Por 16 anos, minhas aparições não podiam ter conotação sexual alguma. Não pintava unhas nem boca de vermelho. Quando usava short, nunca era curto. A voz precisava ser doce e aguda. Não rebolava para andar, era durinha. A sexóloga me mostrou que eu deveria ousar a partir daquele momento. Passei por muitas dificuldades na carreira, mas encontrei oportunidades dentro delas. O profissional que não se adapta se extingue. Foi realmente uma reinvenção — analisa a apresentadora, que ficou na RecordTV de 1998 até 2009.
De volta ao SBT e já com a imagem estabelecida na nova fase profissional, Eliana tem um público fiel que a acompanha a cada passo dentro e fora da TV. Nas redes sociais, tem quase 25 milhões de seguidores. Embora mantenha em todas as mídias uma imagem de diva, a paulista afirma que é uma pessoa simples.
— Acho que é por isso que tenho tanta empatia com o povão. Eu vou à periferia fazer matérias da mesma maneira que vou ao exterior. Entrevisto morador de rua... Gosto desse contato. Eu era cantora e, no início da carreira, me apresentava em circo, olhando nos olhos das pessoas. Não tenho frescuras. Com o tempo, entendi que não podia ser só entretenimento, tinha que levar informação e prestação de serviço para os telespectadores — garante, para comentar sobre as roupas: — Preciso estar bonita para eles, meu público merece. As pessoas sabem da minha origem humilde e que tenho orgulho disso. Eu venci e quero que acreditem que todos nós podemos crescer na vida.
De fato, Eliana não só cresceu como se multiplicou. Hoje, ela é, além de tudo que já se sabe, nome e rosto de campanhas publicitárias e produtos como esmalte e perfume. Já vendeu 3,5 milhões de unidades das suas quatro fragrâncias. Dona da editora Master Books, a empresária colocou nas prateleiras das livrarias, dentre outros títulos, as biografias dos cantores Milton Nascimento e Elis Regina, mãe de João Marcelo Bôscoli, pai de seu primeiro filho:
— Não lanço qualquer produto só para ganhar dinheiro. Sou preocupada demais com o preço e a qualidade. Se não servir para eu usar, não serve para o consumidor. Por isso, visito as fábricas, participo das pesquisas, da criação dos programas. Só sei trabalhar assim e não abro mão disso.
Também atriz, a loura foi produtora e protagonista do filme “Eliana e o segredo dos golfinhos”, uma das dez maiores bilheterias de 2005. Sem falar que lançou 15 CDs e quatro DVDs, vendendo mais de três milhões de discos. Por dez anos (de 2004 a 2013), manteve o Bloco Happy, no carnaval de Salvador (Bahia). Dessa época, ela guarda boas recordações e as letras das músicas que vive cantarolando em casa.
— Tenho cantado só no chuveiro e para Manuela (risos). Gosto muito de cantar, mas me dedico mesma a apresentar — diz, para em seguida elogiar “Os dedinhos”, uma versão da canção francesa “Frère Jacques”: — É um tesouro para mim. Essa música foi a porta para muitas coisas boas na minha vida. Uma vez, encontrei com uma voluntária da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), e ela me falou que essa canção era usada para aprimorar a coordenação de movimentos dos pacientes. Isso me estimulou a produzir músicas para além da diversão.
Ao mesmo tempo em que inspira pessoas, Eliana se diz influenciada. Tendo Hebe Camargo e Marília Gabriela como suas primeiras referências, hoje seus olhos brilham para Fátima Bernardes.
— Quando tive que migrar de público, mirei em Hebe e Gabi. Além da essência muito bacana como profissionais, elas são seres humanos incríveis. Hoje, tenho profunda admiração pela Fátima. Ela é uma mulher de determinação, tem coragem para mudar. É o tipo de pessoa que eu paro para ver e ouvir. Fátima me representa — atesta a apresentadora, que descarta ter havido rivalidade com suas contemporâneas, Xuxa e Angélica: — Nunca competi com ninguém. Falo com elas pessoalmente ou por WhatsApp. Nunca houve rusgas entre nós e nos gostamos muito.
A voz firme revisita memórias, recorda pessoas e fala sobre os caminhos escolhidos, mas um tom doce e emotivo toma conta de Eliana ao conversar sobre o que mais gosta: família e maternidade.
— Com tantas reviravoltas em 30 anos de carreira, nada se compara ao desafio da maternidade. O que eu passei com Manuela foi forte demais (ela teve que ficar afastada dos estúdios e em repouso absoluto nos últimos cinco meses de gravidez por conta de um descolamento de placenta). Hoje, o mundo pode desabar que, se meus filhos estiverem bem, nada me abala. A gestação da Manu me ensinou que controlar a vida é pura ilusão. Eu tinha acabado de gravar um programa maravilhoso e, no outro dia, já estava no hospital com sangramento — recorda ela, casada com o diretor de TV Adriano Ricco, de 40 anos, pai da menina: — Nossa família está completa, mas pretendemos nos casar oficialmente, só ainda não encontramos tempo. Quero uma cerimônia simples.
Com poucas alterações, Eliana mantém o corpo de quando começou na carreira, mesmo após duas gestações. Segundo ela, as medidas, mantidas sem neuroses, foram conquistadas com esportes, boa alimentação e amamentação. Depois da gravidez complicadíssima, a estética não é seu foco.
— Não tive crise dos 30 anos, dos 40... Vamos ver se terei aos 50. Tenho gostado do que vejo no espelho. Eu fui respeitando a minha idade. Não uso mais minissaia, por exemplo. A gente tem que saber amadurecer. Acho que estar bem emocionalmente vale mais do que qualquer calça 38.
Fotos Danilo Borges/Divulgação / Produção Thidy Alvis e Robson Almeida
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